quarta-feira, outubro 06, 2004

A Liberdade

Desde o nosso nascimento procuramos evoluir e atingir uma liberdade intelectual: queremos ser livres!
Toda a nossa vida procuramos essa liberdade: uns procuram na libertinagem, cada um deve fazer o que quiser, mas atenção, com certo respeitinho! (dizem eles); outros, procuram atingir a Verdade. Como diz João Paulo II, na sua carta às famílias: "A pessoa realiza-se mediante o exercício da liberdade na verdade. A liberdade não pode ser entendida como faculdade de fazer o que quer que seja: ela significa dom de si. Mais: significa disciplina interior do dom. No conceito de dom, não está inscrita apenas a livre iniciativa do sujeito, mas também a dimensão do dever."
Quando discutimos certos assuntos acabamos por ouvir: "olha, tu tens a tua verdade e eu a minha, e continuamos a viver com as nossas verdades" - como se não houvesse certo e errado, verdadeiro e falso, no fundo uma Verdade Absoluta. O mundo vive sem verdades, logo tudo é discutível. Como se discute tudo e não existem Verdades Absolutas, então podemos pôr tudo em causa: matar seres vivos, matar velhos que chateiam, matar doentes mentais que não fazem nada e só dão prejuízo.
Estou cada vez mais convencido que só somos livres quando conseguimos ver a plenitude da Verdade, a qual que se resume: no Amor ao Próximo. Um Amor sem pedir nada em troca, um amor gratuito. Diz o Papa "O egoísmo, em todas as suas formas, opõe-se directa e radicalmente à civilização do amor. Porventura significa isto que o amor se pode definir simplesmente como «anti-egoísmo»? Seria uma definição demasiado pobre e, em última análise, apenas negativa, mesmo se é verdade que, para realizar o amor e a civilização do amor, devem ser superadas as várias formas de egoísmo."
Não é o aborto uma manisfestação de egoísmo? O que há mais sagrado que dar a própria vida? Deus deu-nos a possibilidade da transmitirmos a vida de geração em geração, e hoje, apesar de vivermos com melhores condições que os nossos avós, temos menos filhos e alguns querem matar os que têm. Saliento, vivemos numa sociedade moderna com imensas facilidades, e mesmo assim continuamos a querer apenas o nosso prazer, ter a nossa liberdade, sendo cada vez mais egoístas e egocêntricos.
Uma vez, uma amiga contou-me que na catequese lhe tinha sido dito que no referendo de 1998 sobre a despenalização do aborto, devia ter-se votado sim, argumentando que devíamos dar liberdade a todos os outros que não têm os nossos valores. Ora, isso não nos torna responsáveis por esse crime? Para dar resposta, cito uns excertos da Encíclica Evangelium Vitae:
"O mandamento « não matarás », inclusive nos seus conteúdos mais positivos de respeito, amor e promoção da vida humana, vincula todo o homem. De facto, ressoa na consciência moral de cada um como um eco irreprimível da aliança primordial de Deus criador com o homem; todos o podem conhecer pela luz da razão e observar pela obra misteriosa do Espírito que, soprando onde quer (cf. Jo 3, 8), alcança e inspira todo o homem que vive neste mundo. Constitui, portanto, um serviço de amor, aquele que todos estamos empenhados em assegurar ao nosso próximo, para que a sua vida seja defendida e promovida sempre, mas sobretudo quando é mais débil ou ameaçada." e "Uma responsabilidade geral, mas não menos grave, cabe a todos aqueles que favoreceram a difusão de uma mentalidade de permissivismo sexual e de menosprezo pela maternidade, como também àqueles que deveriam ter assegurado — e não o fizeram — válidas políticas familiares e sociais de apoio às famílias, especialmente às mais numerosas ou com particulares dificuldades económicas e educativas. Não se pode subestimar, enfim, a vasta rede de cumplicidades, nela incluindo instituições internacionais, fundações e associações, que se batem sistematicamente pela legalização e difusão do aborto no mundo."